1.4.11

DESPEDIDA



Existem duas dores de amor:

A primeira é quando a relação termina e a gente,

seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro,

com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva,

já que ainda estamos tão embrulhados na dor

que não conseguimos ver luz no fim do túnel.



A segunda dor é quando começamos a ver a luz no fim do túnel.

A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços,

a dor de virar desimportante para o ser amado.

Mas, quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida:

a dor de abandonar o amar o amor que sentíamos daquele momento.

A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre,

sem sentimento especial por aquela pessoa. Dói também…



Na verdade, ficamos apegados ao AMAR e não à pessoa que se amou.

Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém.

É que, sem se darem conta, não querem se desprender de AMAR e não da pessoa.

Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um lembrança boa,

lembrança de uma época bonita que foi vivida…

Passou a ser um bem de valor inestimável, AMAR é uma sensação à qual

a gente se apega. Faz parte de nós.

Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis,

mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo,

que de certa maneira entranhou-se na gente,

e que só com muito esforço é possível abandonar.



É uma dor menos dolorosa, quase imperceptível.

Talvez, por isso, costuma durar mais do que a ‘dor-de-cotovelo’

propriamente dita. É uma dor que nos confunde.

Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos

deixou já não nos interessa mais, mas interessa o AMAR que sentíamos por

ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos fazia bem,

que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”.



Despedir-se do AMOR naquele momento é despedir-se de si mesmo.

É o arremate de uma história que terminou,

externamente, sem nossa concordância,

mas que precisa também sair de dentro da gente…

Esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre,

criar espaço para um novo sentimento por outra pessoa.

E só então a gente poderá AMAR de novo.


 
(Texto adaptado - Martha Medeiros)


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