1.11.10

Utopia?

"Fui criado com princípios morais comuns.

Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração.

Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto.

Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades...

Confiávamos nos adultos, porque todos eram pais, mães ou familiares da nossa rua, do bairro ou da cidade.

Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror...

Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos.

Tudo que os meus netos um dia enfrentarão.

Pelo medo no olhar das crianças, dos velhos, dos jovens e dos adultos.

Direitos humanos para os criminosos, deveres ilimitados para os cidadãos honestos.

Não levar vantagem em tudo significa ser idiota.

Trabalhador digno e cumpridor dos deveres vidou otário.

Pagar dívidas em dia é ser tonto - anistia para corruptos e sonegadores.

O que aconteceu conosco?

Professores maltratados nas salas de aula; comerciantes ameaçados por traficantes; grades em nossas janelas e portas.

Que valores são esses?

Automóveis que valem mais que abraços.
 Filhas querendo uma cirurgia como presente por passarem de ano.

Filhos esquecendo o respeito no trato com pais e avós.

No lugar de senhor, senhora, ficou “oi cara”, ou “como está, coroa”?

Celulares nas mochilas de crianças.

“O que vais querer em troca de um abraço?”
 – “A diversão vale mais que um diploma.”
– “Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa.”

– “Mais vale uma maquiagem do que um sorvete.”
 - “Aparecer do que ser.”

Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo?

Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar nas flores…

Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão.

Quero a honestidade como motivo de orgulho.

Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar “olho no olho”.
Quero sair de casa sabendo a hora em que estarei de volta, sem medo de assaltos ou balas perdidas.

Quero a vergonha na cara e a solidariedade.

Onde a palavra valia mais que um documento assinado.
Quero a esperança, a alegria, a confiança de volta.
Quero calar a boca de quem diz: “temos que estar ao nível de” ao falar de uma pessoa.

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como o céu de primavera, leve como a brisa da manhã. E definitivamente bela como cada amanhecer.

Quero ter de volta o meu mundo simples e comum, onde existam o amor, a solidariedade e a fraternidade como bases.

Vamos voltar a ser gente. A ter indignação diante da falta de ética, de moral, de respeito.
Construir um mundo melhor, mais justo e mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas.

Utopia? Quem sabe. Precisamos tentar.

Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão.

Quem sabe começando a caminhar ou ajudando a transmitir esta mensagem teremos de volta nossa dignidade, nosso respeito, nossos direitos, nossas vidas.

Pense, decida.

Só depende de você."



(Por Arnaldo Jabor)

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